quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Na calçada da papelaria eu sentei e chorei - Desegraph, considerações 2018

Em um passado distante eu tinha uma caneta desegraph, que eu mais ou menos odiava, mais ou menos amava, e meio que tolerava, porque ela representava uma economia frente às canetas descartáveis. Passado este tempo, preciso fazer algumas observações...



Explicando: a caneta desegraph é um engenho traiçoeiro, porém bastante útil. Compreende-se aí que apesar dessa característica de fazer uma linha constante, entupir com relativa facilidade, e pedir um manuseio onde ela funciona melhor quando mantida na vertical (e não inclinada, como naturalmente as canetas e lápis ficam na mão da gente), essa porcaria fez um bem enorme ao meu bolso.

Eu sofria de uma chateação constante por conta das canetas descartáveis (aliás, preciso falar sobre elas com mais calma), e pelo volume que eu produzo de desenhos, isso estava ficando FEIO - e não estou falando apenas de como as canetas descartáveis tem uma vida limitada, mas também de como elas podem ser complicadas de achar e por vezes (em especial com a alta do dólar) se tornam caras.

Claro, uma caneta descartável sozinha não é cara, mas quando se usa em quantidade e frequência, o custo começa a pesar. Como as minhas estavam na saideira (velhas, gastas, etc), fui usando literalmente até acabar com as descartáveis que eu tinha e adquiri outras desegraphs neste meio tempo. Cheguei então neste ponto em que eu só estou usando recarregáveis, e estou me dando bem com esta fase.

Minhas coleguinhas. A da fitinha amarela é a velha 0.8, de longe a que eu mais uso.

Tem bastante coisa pela internet falando dos prós e contras das canetas desegraph, e acho que já tenho bastante convívio com essas desgraçadas para saber um e outro truque:

  • Coloque uma ou duas gotas de água no depósito na hora da recarga. Ajuda a deixar a tinta mais fluida, e reduz risco de entupir. 
  • A tinta nanquim da Trident ainda é a melhor opção para recarregar a sua desegraph. Sério.
  • Não há lei no universo que te impeça de colocar - digamos - Nanquim Escolar Acrilex (se é pra descer baixo, nós vamos rastejar no esgoto!), MAS esteja ciente que ela é mais densa, mais grossa do que a Nanquim Trident. Eu vi uma pessoa colocar até o nanquim dourado na desegraph, o que é duplamente arriscado, afinal cores metálicas são mais grossas ainda e portanto, tem mais sedimento.
"É tudo nanquim". Sim, é tudo nanquim, mas uma delas foi feita para a desegraph e a outra não!
  • Outra tinta que é aceitável dentro da sua desegraph é a tinta para caneta tinteiro - novamente, esteja ciente de que as tintas para caneta tinteiro são na maioria solúveis em água (ou seja, borra... e borra muito!), e a Nanquim Trident uma vez seca é resistente a água. 
  • Quanto mais fina a sua caneta, maior é o risco de entupir.
  • Quanto mais grossa a sua caneta, maior é o risco de errar no traço.
  • De modo geral, antes de partir para a ação, antes de soltar a tampa para desenhar, dê umas sacudidas na caneta para soltar o êmbolo (válvula) da caneta. Você vai sentir um pequeno tec-tec-tec com isso, o que ajuda a movimentar a tinta dentro dela e fazê-la fluir.
  • Com boa vontade e treino, é possível aprender a variar a espessura do traço (eu fazia isso com uma 0.8, e ainda faço isso com uma 1.4).
  • Se for usar a desegraph com régua, vire a régua ao contrário, para que o chanfro fique afastado da superfície do papel, senão a tinta vai infiltrar junto da borda da régua e vai ser uma desgraça
  • Corretivo de caneta em geral encobre bem a tinta nanquim, mas há quem use guache branca, tanto para efeitos quanto para correção. Ela é mais traiçoeira com tecidos e superfícies porosas (madeira, por exemplo), então o perigo de manchas permanentes existe.
  • Para limpar a caneta, além de água, use apenas álcool (esse de cozinha mesmo).
  • Não desmonte a válvula da caneta ao limpá-la. Sério. Eu tive anos atrás um acidente ridículo com uma válvula de desegraph. Simplesmente a danada soltou quando eu passava água, ela caiu na pia, desceu pelo ralo e eu quase chorei de raiva.
Eu não comprei as canetas que uso todas de uma vez. Primeiro foi a 0.8 que eu ganhei de uma amiga, e depois comprei as outras em ocasiões diferentes. Também procurei opções que fossem mais amenas do que as lojas da minha cidade, eu sugiro para isso o Mercado Livre e o Enjoei.

Não sugiro as canetas desegraph para um desenhista ocasional, ou que tenha no desenho somente um passatempo, pois são canetas caras (principalmente em comparação com uma descartável). Eu precisava de um material heavy duty, por isso apelei mesmo! Outro problema é que você não pode deixar a sua desegraph parada por muito tempo, nem que seja um risquinho ao acaso para mantê-la viva, porque se uma dessas entope, nem sempre é possível salvá-la e o prejuízo dói no bolso.

Também não recomendo desegraph para escrita. Elas são canetas para desenho de engenharia e arquitetura, e eu já estou forçando a barra usando desegraphs para desenho artístico, e usá-las para escrita é, para dizer o mínimo, atroz. Outra coisa: não adianta NADA você embarcar naquela conversa de "ah, vou usar porque é a melhor", porque não é. Eu sou muito consciente de que a desegraph é o que tem pra hoje, mas não é a melhor da categoria, e muito menos a melhor para a função. Ela vai ter um bom desempenho somente se você der tempo e chance para ela.

Essa é a parte mais importante: é preciso ter intimidade com o material, então para ter um melhor resultado com a desegraph, isso é resultado de treino e adaptação, logo não adianta esperar um milagre logo de cara. A desegraph é uma caneta temperamental, e cada uma tem seu jeitão, e leva tempo para se acostumar com elas. Respeite a desegraph! :P

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