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Na calçada da papelaria eu sentei e chorei - Canetas nanquim descartáveis e suas alternativas

ARRÁ! Eu disse que ia rolar um post sobre isso. Não preciso apresentar o material, ele é parte da cesta básica da maioria dos desenhistas, profissionais ou amadores, artísticos ou técnicos.


Uma caneta nanquim descartável é literalmente o que o nome diz: uma caneta de tinta preta permanente, que você usa até acabar e joga fora. Pelo que se entende por permanente eu me refiro a tinta do traçado, que após a secagem é resistente à água - apesar de que isso só é relevante para quem procura usar estas canetas para contornar, por exemplo, uma arte que vai receber pintura depois. Se a sua arte será em preto e branco (ou trabalhada com materiais secos, como lápis de cor), em absoluto TANTO FAZ se a caneta tem um traçado solúvel.


Hoje em dia existem muitas marcas fabricando este tipo de caneta, o que inclui as marcas "desconhecidas", geralmente importadas (encontradas em sites de compra estrangeiros). Sobre estas posso dizer que na maioria funcionam tão bem quanto as mais famosas, e tem preço atraente - algumas pessoas podem citar que elas não duram tanto quanto as famosas (o que é relativo, porque já peguei Uni Pin que não durou um mês, e já peguei importada chinesa que durou quase dois anos), ou que a tinta não é resistente à água (o que é importante só se você precisar que ela seja resistente!).

Agora, alguns comentários sobre este cabuloso tema:

  • A tinta de uma caneta descartável flui por capilaridade, descendo quase sempre de um depósito que é um tubo de material fibroso por uma ponta de feltro (ou material equivalente), e diferente do que reza a lenda, SIM, este tipo de caneta pode entupir. Só não é comum acontecer.
  • Normalmente o entupimento de uma caneta descartável se dá quando você passa a caneta sobre uma superfície pintada e ainda úmida. O pigmento da tinta fresca gruda na ponta da caneta, seca ali e bloqueia o fluxo normal.
  • Por causa desta ponta de feltro, que é delicada, as canetas descartáveis podem sofrer desgastes nela, de modo que este feltro abre (tornando o traço borrado ao invés de limpo e constante). Isso pode acontecer por excesso de uso, ou muita pressão da mão durante o uso, forçando a ponta, ou até quando se usa a caneta em superfícies muito ásperas (madeira, tela de pintura, papelão rugoso, etc).
  • As canetas descartáveis quase sempre tem disponíveis espessuras que variam do 005 até 08 (ou mais). O que ocorre é que algumas espessuras são mais fáceis ou mais difíceis de encontrar, depende da disponibilidade de estoques!
  • Quase sempre este tipo de caneta tem o corpo fechado de maneira hermética, e abrir pelo tambor da extremidade traseira faz com que ela perca vida útil (seque), a não ser que você vede muito bem este tambor ao fechar a caneta novamente.
  • Há algumas pessoas que pingam álcool (sim, o de cozinha) ou acetona (sim, a acetona de manicure) no depósito de feltro, para reativar a tinta da caneta descartável. É arriscado, mas funciona por um tempo, embora não funcione com todos os tipos de caneta (por conta da composição da tinta).
  • Outros procedimentos mais alternativos (igualmente arriscados, mas repito: funcionam por um tempo) seriam pingar nanquim escolar (aquela da Acrilex) ou nanquim profissional (Trident) dentro da caneta, para recarregá-la. Confesso que já fiz isso, me salvou por uma época, mas depois a caneta inevitavelmente morreu!

Depois desta longa conversa sobre canetas nanquim, acho que é hora de tirar este urubu dos ombros de muita gente: estamos em uma época em que o material que se usa na produção tem mais a ver com uma preferência pessoal do que uma exigência de mercado. Vou explicar: hoje em dia as artes são digitalizadas (isso quando não são inteiramente digitais!) e a não ser que você de fato comercialize seus originais, alguns artistas nem estão interessados em manter os originais por muito tempo. Isso nos leva a diversas opções alternativas para arte-finalização, considerando que o importante é que o traço seja preto e consistente:

Caneta permanente - quase sempre de base oleosa ou alcoólica, ela costuma ser resistente a àgua e solúvel em álcool. Antigamente eram chamadas de "pincéis atômicos" e eram de ponta grossa, e hoje em dia se encontram em diversos tamanhos, embora conservem aquela característica de literalmente riscar em quase qualquer superfície. Um exemplo muito bom é a caneta Sharpie (existem muitas outras, incluindo Pilot!).

Caneta hidrográficas - caneta com tinta solúvel em água, uma evolução da canetinha escolar. Aqui vou ser honesta: uma das melhores que já encontrei foi a da Faber Castell, mas também existe a canetinha da Stabilo (que tem o grave defeito de penetrar o papel e borrar com o passar do tempo).


Caneta gel - caneta com ponta semelhante a esferográfica, mas com carga de tinta em gel. Oferece controle de uso, relativa resistência ao tempo (se for bem guardada, fica direitinho no papel!), porém nem sempre é resistente à água, ou mesmo resistente ao atrito de uma borracha. Interessante que as canetas gel também tem em cores (muitas! cores convencionais, neon, metálicas, cintilantes, há vários tipos!) inclusive na cor branca, e esta caneta gel branca pode ser muito boa para fazer efeitos especiais, como pontos de luz nos desenhos. Atenção: entope com facilidade!

Caneta-tinteiro - eu escrevi um artigo inteiro sobre ela. Aliás, escrevi dois!

Caneta esferográfica - alguns artistas utilizam a boa e velha Bic preta para arte-finalizar suas artes. Se funciona para eles, por que não? Considere que ela é resistente à água, não desbota com o tempo, é barata e fácil de encontrar.

Caneta para CD/DVD - aquelas canetas para escrever na superfície de CDs, quase sempre com duas pontas, uma mais fina e outra mais grossa. Elas se comportam como canetas permanentes, e costumam ser baratas. Um problema aqui é que a tinta delas é fina e pode penetrar demais no papel. Algumas são resistentes à agua, e solúveis em álcool ou acetona, porém é melhor testar antes para saber como ela vai se comportar.

Lembre-se que seu papel (ou qualquer outra superfície em que esteja trabalhando) também pode fazer diferença, por isso eu torno a frisar que é bom testar para saber se a sua caneta vai funcionar do jeito que você espera que funcione! Eu citei alguns tipos, mas com certeza há mais do que isso, e vai depender da sua experiência para saber o que vai dar certo ou não. Devo reforçar aqui que além das marcas que citei acima, há outras, e para ser bem direta, marca/grife não é necessariamente sinônimo de qualidade e rendimento, e para cada uso (e cada pessoa) existe um material com o qual ela vai se encontrar!

PSIU: as imagens deste post não são minhas, são apenas para ilustrar o que eu estava falando!!

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